18.4.10

Memória

Nas minhas festas de aniversário de criança, havia alfenins brancos e rosas em bandejas de prata. Quando novamente me delicio com um alfenim e sinto o seu retorcido delicado, como nó no cabelo da menina que não se penteia, pois a boneca a reclama imperiosamente, quando novamente quebro um nos dentes, como quem prova a madeleine que ressuscita a memória, tenho, de volta, os lençóis imaculados, o crivo da avó e as lágrimas preciosas da infância __ que eu, quando menina novinha, quis conservar numa tacinha, como ouvi dizer que fez um santo __ sobre a minha mesa.

P.S.: 0 alfenim, que o povo também chama alfeninho __ do árabe al-fanid __ é, na definição de Luís da Câmara Cascudo, uma massa de açúcar, seca, muito alva, vendida em forma de flores e outras...
Receita de alfenim, Dicionário do doceiro brazileiro (3a ed.), Rio de Janeiro, J.G. Azevedo Editor, 1892:
"Toma-se um quilograma de calda na qual se lança uma colher de vinagre branco, ou meia colher de geléia de fruta azeda. Leva-se ao fogo e quando estiver no ponto de quebrar, deitam-se algumas gotas de óleo essencial de flor de laranjeira ou qualquer outro que se prefira. Tira-se, então, do fogo, derrama-se sobre uma mesa de mármore e deixa-se esfriar até se lhe poder pegar com as mãos. Toma-se então um bocado, e principia-se a estender como em fio, separando as mãos, tornando a puxar, estendendo, e repetindo isto até que a massa esteja branca prateada, e que, reunidas, as pontas do fio não se ajuntem em massa. Neste caso se desfia em fios delgados que se dobrarão, estendem-se, sobre o mármore, e cortam-se do tamanho que se quiser. Essa operação deve ser feita com rapidez e, portanto, por duas ou mais pessoas, para que a massa não arrefeça. Essas preparações podem ser coradas e, então, a matéria corante em pó se junta ao estender a massa, logo em princípio, porque pela repetição desta operação se mistura por toda a massa igualmente".

3 comments:

Iara Fonseca Schmidt said...

Samantha, te descobri no blog da Roseana Murray, li o poema e me encantei!

Parece que sou seu primeiro comentário por aqui... vou ser seguidora tbm! Não sei se assídua mas tentarei...

Não escrevo maravilhosamente mas tbm tenho um blog http://iaratap.blogspot.com/
se quiser espiar... fique à vontade!

Abraços poéticos, Iara

Professor Latuf said...

Que maravilha de texto: saber-sabor! Este doce é também do menu de minha infância, porque sou de origem libanesa. Aliás, fui convidado para a recepção, no Rio de Janeiro, ao Presidente do Líbano; veio-me o convite da parte do Consulado do Líbano e enquanto "dos libaneses que contribuem com a cultura do Brasil". Parabéns, Samantha, você escritora!

Unknown said...

Samantha, que texto maravilhoso! Gostoso de ler, aconchegante! Simplesmente amei! Virei sua seguidora! Bj moema